quinta-feira, 11 de junho de 2009

Conjugando o verbo planejar

Daniel Ânderson Müller


Sentado em frente ao computador, já imagino entrar madrugada a dentro para tentar conjugar o verbo planejar. Tenho como companhia uma generosa xícara de café quente e o som de algumas de minhas canções favoritas. A idéia é resumir as aprendizagens significativas adquiridas durante as leituras acerca da importante tarefa de planejamento de ensino, atividade comum a todos os professores.

É o que eu planejo fazer. Planejar é quase sempre um verbo conjugado na primeira pessoa do singular. Trata-se, portanto, de uma ação individual essencialmente baseada no saber do professor. O saber docente, segundo Tardif (2002, p. 36), é “um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais”.

Talvez seja pela experiência do professor que o planejamento de sua prática docente seja tão particular. Para tornar-se de fato um professor, o indivíduo passa por um processo de formação e aquisição de saberes que é comum a todos os profissionais da área. Mas a experiência não, ela é só dele, do indivíduo. Para contribuir com o raciocínio, Larrosa (2002, p. 27) diz que “o acontecimento é comum, mas a experiência é para cada qual sua, singular e de alguma maneira impossível de ser repetida”.

Dentro deste procedimento individual, cabe também a observação. Não só eu planejo, como tu planejas e ele(a) planeja. Neste momento, tento olhar o planejamento de ensino como uma ação que pode ser feita a partir de projetos anteriores. Verificando exemplos já realizados, fica relativamente mais confortável a tal ação individual de planejar. O problema, neste momento, fica por conta do risco que se corre de se incorrer nos mesmos erros antes cometidos.

Sendo assim, não pode faltar a reflexão crítica da prática docente. A educação é elemento de transformação da sociedade. E o professor é o principal agente desta transformação. Como cidadão, servindo como exemplo a seus alunos, o professor tem a obrigação de questionar, gerar dúvida e curiosidade. E será que as práticas docentes vigentes fazem isso? Penso que não. Shor (1986, p. 18-19) acredita que “o professor precisa ser um aprendiz ativo e cético na sala de aula, que convida os estudantes a serem curiosos e críticos... e criativos”.

Se eu planejo, tu planejas e ele(a) planeja, então nós planejamos. Penso que o grande desafio de um professor, quando se propõe a planejar suas aulas, é tentar unir o que já existe e já é praticado com novas práticas baseadas em seus próprios saberes. Mais desafiador ainda é conseguir adequar tudo isso aos critérios definidos pelo mercado e pela sociedade. Querendo ou não, os alunos estarão sempre sob a pressão e efeito do mercado e da sociedade. O professor deve ser consciente deste fato e buscar uma educação que prepare seus alunos a enfrentar a dura realidade, que envolve trabalho, dinheiro, política, diferenças sociais, conflitos ideológicos, etc.

Irei um pouco adiante nessa visão de planejar na primeira pessoa do plural. Vejo uma boa luz no que chamamos de interdisciplinaridade. Acostumou-se a tratar o conhecimento como se ele fosse dividido em áreas distintas e independentes. Quebrar este paradigma soma-se aos demais desafios do professor. Acredito que pensar a prática docente unindo os conhecimentos das mais diversas áreas possa levar os alunos a conquistar o saber. E além disso, adequar o conteúdo das aulas ao cotidiano pode criar significado e motivar os alunos a ter uma reflexão crítica de sua realidade e, consequentemente, compor um fator transformador desta realidade.

Vejo que não há receita pronta. Mas há escolhas. Posso resumir as opções ao empregar outros verbos ao verbo planejar, do qual falo neste texto. A primeira opção, a mais cômoda, é pensar o planejamento aliado às ações de apresentar, transmitir, reproduzir e decorar. A segunda opção, mais difícil e mais desafiadora, comporta maior quantidade de verbos e me parece muito mais agradável: conhecer, pesquisar, aprender, discutir, criticar, renovar, transformar, experimentar, criar, refletir, inovar... E que se acrescentem mais verbos!

Não sei se ao leitor este texto se mostrou esclarecedor. Para falar a verdade, eu não pretendia esclarecer nada. Muito pelo contrário, pensei em gerar dúvidas, mas incentivar a escolha por uma educação que você pode chamar do que quiser: integradora, libertadora, transformadora, reflexiva, etc. Escolha o nome que achar mais adequado, mas planeje sua prática de acordo, sem medo de errar. Errar é o risco que se corre ao ter uma postura inovadora. Mas que possamos aprender ainda mais com nossos erros.

REFERÊNCIAS:

CUNHA, Maria Isabel. Relação professor-aluno. In: Repensando a didática. Campinas: Papirus, 1999. p. 145-158.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr de 2002, nº 19. Disponível em http://www.anped.org.br/rbe/ rbedigital/RBDE19/RBDE19_04_JORGE_LARROSA_BONDIA.pdf. Acesso em 06 Jun 2009.

PERISSÉ, Paulo. O educador aprendedor. São Paulo: Cortez, 2004.

RIOS, Terezinha A. Ética e competência – 18ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.

SHOR, Ira; FREIRE, Paulo. O sonho do professor sobre a educação libertadora. In: Medo e ousadia – O cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 11-25.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A.T.E.N.D.I.M.E.N.T.O.

Aqui, tomo por base um pouco da minha experiência no trato com clientes na empresa onde trabalho para explicar como acredito que deva ser um bom atendimento:

A, de Atenção

Atender é o ato de dar atenção a alguém. Numa sociedade como a nossa, os indivíduos, com o perdão da redundância, são muito individualistas. E muito individualizados. Assim, temos carência de atenção. Se tu deres atenção a alguém, podes conseguir muito desta pessoa, como por exemplo, que ela compre algo que tu queiras vender.

Atendendo o cliente, deves fazer com que ele fale bastante, dando muitas informações. Para tanto, tens que fazer perguntas abertas, aquelas que impedem o uso do "sim" ou "não" na resposta. Para começar, ao invés de perguntar "Posso ajudar?", pergunte "Em que posso ajudar?". Sente a diferença? Na primeira pergunta, o cliente pode te responder com um simples "não" e o atendimento acaba por aí. Na segunda pergunta, ele já precisa formar uma frase para responder adequadamente.

Outra coisa: tratar o cliente pelo nome é muito importante. O próprio nome é a palavra mais forte que cada cliente conhece. Chamar o cliente pelo nome é sinal de que tu prestas atenção nele e que, portanto, mereces consideração.

T, de Treinamento

Aqui, eu poderia usar talento, mas penso que treinamento é mais adequado. É que só ter talento não basta. Como bom apreciador de futebol, sei que o talento de um jogador às vezes é subjugado ao vigor e preparação física do adversário. Portanto, mesmo que tu sejas um indivíduo espetacularmente talentoso, deves treinar muito porque teus adversários não deixarão o caminho fácil para ti.

Experimenta fazer assim: acorda de manhã e olha no espelho. Mas olha firme no reflexo dos teus olhos e diz: "Cara, tu és bom!". Tenta também falar do produto que tua empresa vende. Talvez tu aches estranho, mas como provavelmente tu és o mair crítico de ti mesmo, é certo de que melhorarás teu desempenho na explanação.

Outra técnica que podes usar é conversar com amigos sobre o teu trabalho. Explica para eles o que tu fazes, que tipos de produtos ou serviços tu comercializas. Estarás fazendo um belo treinamento e teus amigos podem até virar teus clientes.

E, de Empenho

Esforça-te para conquistar o cliente. Mantém uma postura positiva. Faz do teu semblante o cartão de visitas da tua empresa, do teu negócio. Diante de uma venda perdida, analisa os pontos negativos e tenta superá-los na próxima oportunidade.

N, de Naturalidade

Te falava antes de treinamento, certo? Pois deves treinar tanto que falar do teu produto passe a ser natural como um simples bate-papo com amigos na mesa do bar (sem as tradicionais piadinhas sobre o sexo oposto, claro). De fato, um texto decorado passa uma sensação de falta de confiança. Portanto, tudo que vais falar deve estar na ponta da língua. Deves ter informações detalhadíssimas sobre teu produto. Tens que passar segurança a teu cliente.

D, de Discrição

Precisas ser discreto em vários aspectos: na fala, nos gestos, nos trejeitos, nas atitudes, no vestuário. A aparência serena traz calma e segurança a teu cliente. Desta forma, tu mostras para ele que a decisão em comprar teu produto é absolutamente tranqüila.

I, de Inteligência

Poderia ficar horas falando sobre conceitos de inteligência. Mas o que eu, de fato, quero é diferenciar inteligência de esperteza. Engana-se aquele que pensa que vender algo com a máxima margem de lucro é uma atitude inteligente. Pode até ser, mas tens que ter absoluta certeza de que aquele produto será muito útil ao cliente e de que ele ficará plenamente satisfeito. Se não tiveres certeza disso, terás sido esperto para fechar a venda, mas não inteligente a ponto de preservar o cliente para futuras vendas.

Tu és inteligente, sim. E tenhas certeza de que o cliente também o é. Não tente enrolar. Podes até fechar um primeiro negócios, mas uma nova venda pode se tornar impossível se teu produto ou serviço não agradar.

M, de Motivação

Motivação é a união de um motivo, que justifica o teu trabalho, com uma ação, que é o trabalho em si. Portanto, deves ter teus motivos para trabalhar com vendas. Então te mexe! Vai agir! Não sou em quem vai te motivar. Tu tens que encontrar a força para trabalhar a alcançar teus objetivos. Não me vem com aquela história de "estou desmotivado". Tuas contas, teus sonhos, teus desejos não esperam até reencontrares a motivação.

E, de Educação

Educação pode ser traduzida em polidez, naturalidade, discrição, e outras características típicas da pessoa "educada". Mas disso já falamos acima. Me refiro agora a educação de fato, ou seja, cursos e treinamentos. Tu precisas acumular conhecimento para atuar bem na área comercial. Aproveita para assistir palestras quando tiver oportunidade. Procura cursos na área. Livros também ajudam.

N, de Negociação

Saber negociar é uma arte. Deves encontrar o meio termo entre a lucratividade da tua venda e o interesse do cliente em baixar o preço. Um amigo meu costuma comparar esta etapa do processo como uma disputa de gato e rato. Pode ser vista assim mesmo: tu queres que teu cliente compre teu produto, mas o cliente também quer tirar algo de ti. Se tu venderes por um preço muito alto um produto que não trará tantos benefícios a teu cliente, até terás boa lucratividade no início, mas podes não conseguir concretizar mais vendas depois. Em compensação, não podes vender por um preço tão baixo que a saúde financeira do teu negócio seja comprometida.

Tu e teu cliente devem sair ganhando. Um porque vende um produto de qualidade por um preço que permite boa margem de lucro. O outro porque adquire um produto de grande utilidade e que lhe garanta um belo retorno em detrimento do investimento empenhado.

T, de Trabalho

Tchê, o único lugar onde o Sucesso vem antes do Trabalho é o dicionário. Acho que isso foi Albert Einstein que disse. Se foi ele mesmo, quem somos eu ou tu para contestar, não é verdade? Então arregacemos as mangas e vamos à luta. Supondo que tenhas um bom produto à venda. Ele não se vende sozinho, tens que procurar os clientes. Não tem outro jeito.

O, de Obrigado e volte sempre!

Agradeça sempre a tudo que conquistar. Se vender, agradeça a teu cliente pela compra. Se não vender, agradeça ao menos a chance de mostrar o teu trabalho e coloque-te à disposição para dúvidas futuras.

Mais alguma coisa?

Se me é permitido acrescentar algo, já que o texto é meu, coloco ainda um "S", de sorriso na conversa. Abre um sorriso e vai ao encontro do teu cliente. O sorriso é contagioso e extremamente poderoso.

O Ônus e o Bônus na Educação

Daniel Ânderson Müller*

Diante do que alguns podem chamar de caos da educação pública, vemos a indignação da sociedade e algumas ações do governo, de forma a aferir o desempenho dos alunos e traçar estratégias de melhoria. Ainda é pouco, mas é um começo.

Em contrapartida, observando a rotina das escolas, é possível verificar a falta de ambição presente em determinados profissionais para mudar esta realidade. Durante a graduação, alguns destes hoje professores sonhavam em construir uma nova realidade na educação. Chamarei o comodismo instituído em determinados profissionais de “influência do sistema”. Você pode se adequar ao sistema, ou melhorá-lo. Qualquer direção que tomar terá o ônus e o bônus. É ilusão pensar que na educação tudo seguiria uma forma ideal já instituída. É tudo, absolutamente tudo, discutível.

É nessa confusão que mergulha o nosso professor. Ele tem metas e objetivos a atingir com seus alunos. Para tanto, ele decidirá a forma mais eficiente. Normalmente, este professor se depara com o sistema e métodos tradicionais, dos quais ele discorda, mas que “sempre funcionam”. Está tudo pronto. É só fazer. Nada disso! Engana-se quem pense que este professor irá novamente transmitir o conteúdo. Antes de qualquer coisa, ele pretende envolver os alunos com o assunto de tal forma que passem a buscar o aprendizado. E, para variar, lá vem o famigerado sistema dizendo que está tudo errado. Aquele deveria fazer o que sempre se fez e que, repito, “sempre funcionou”. Está aí o ônus: o processo pode não dar certo e pode ser que os alunos não aprendam nada. Nosso professor sabe disso. Ele assume o risco do erro pensando no bônus: os alunos podem se encantar de tal forma pelo assunto que extrapolariam expectativas e superariam as metas. Este professor vê um copo que está meio cheio, e não meio vazio!

Lembro-me da professora de história que escureceu a sala e acende um lampião, tal qual séculos atrás. E o professor de física que atirou violentamente uma bola na parede, dando um tremendo susto na turma, mas ilustrou diversos conceitos. E, ainda, a professora de português que com uma piada (que tal?), explorou erros de concordância na fala dos personagens. Além de tantos outros.

Ainda há, contudo, quem prefira não correr risco algum e aceita as coisas como estão. Professores assim não conseguem fazer diferença alguma. Invariavelmente, cumprem suas horas de contrato e reclamam do salário (com razão, lógico). Quer ganhar bem, então trabalhe e se qualifique para isso, diria eu. Não se preocupe tanto com o fracasso. Você pode e deve romper com tudo aquilo que discorda e não se deixar subjugar por aquilo que aí está e que, dizem, sempre funcionou. Já dizia um velho provérbio latino: “O perigo não é querer muito e não conseguir. É querer pouco e conseguir”.

* Acadêmico de Licenciatura em Matemática da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS