sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Ônus e o Bônus na Educação

Daniel Ânderson Müller*

Diante do que alguns podem chamar de caos da educação pública, vemos a indignação da sociedade e algumas ações do governo, de forma a aferir o desempenho dos alunos e traçar estratégias de melhoria. Ainda é pouco, mas é um começo.

Em contrapartida, observando a rotina das escolas, é possível verificar a falta de ambição presente em determinados profissionais para mudar esta realidade. Durante a graduação, alguns destes hoje professores sonhavam em construir uma nova realidade na educação. Chamarei o comodismo instituído em determinados profissionais de “influência do sistema”. Você pode se adequar ao sistema, ou melhorá-lo. Qualquer direção que tomar terá o ônus e o bônus. É ilusão pensar que na educação tudo seguiria uma forma ideal já instituída. É tudo, absolutamente tudo, discutível.

É nessa confusão que mergulha o nosso professor. Ele tem metas e objetivos a atingir com seus alunos. Para tanto, ele decidirá a forma mais eficiente. Normalmente, este professor se depara com o sistema e métodos tradicionais, dos quais ele discorda, mas que “sempre funcionam”. Está tudo pronto. É só fazer. Nada disso! Engana-se quem pense que este professor irá novamente transmitir o conteúdo. Antes de qualquer coisa, ele pretende envolver os alunos com o assunto de tal forma que passem a buscar o aprendizado. E, para variar, lá vem o famigerado sistema dizendo que está tudo errado. Aquele deveria fazer o que sempre se fez e que, repito, “sempre funcionou”. Está aí o ônus: o processo pode não dar certo e pode ser que os alunos não aprendam nada. Nosso professor sabe disso. Ele assume o risco do erro pensando no bônus: os alunos podem se encantar de tal forma pelo assunto que extrapolariam expectativas e superariam as metas. Este professor vê um copo que está meio cheio, e não meio vazio!

Lembro-me da professora de história que escureceu a sala e acende um lampião, tal qual séculos atrás. E o professor de física que atirou violentamente uma bola na parede, dando um tremendo susto na turma, mas ilustrou diversos conceitos. E, ainda, a professora de português que com uma piada (que tal?), explorou erros de concordância na fala dos personagens. Além de tantos outros.

Ainda há, contudo, quem prefira não correr risco algum e aceita as coisas como estão. Professores assim não conseguem fazer diferença alguma. Invariavelmente, cumprem suas horas de contrato e reclamam do salário (com razão, lógico). Quer ganhar bem, então trabalhe e se qualifique para isso, diria eu. Não se preocupe tanto com o fracasso. Você pode e deve romper com tudo aquilo que discorda e não se deixar subjugar por aquilo que aí está e que, dizem, sempre funcionou. Já dizia um velho provérbio latino: “O perigo não é querer muito e não conseguir. É querer pouco e conseguir”.

* Acadêmico de Licenciatura em Matemática da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

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