Resenha do Capítulo Um do livro "Apresentações da Filosofia", de André Comte-Sponville.
Daniel Ânderson Müller*
Crises internacionais se fazem cada vez mais freqüentes. Crises nacionais, sobretudo na política, são quase eternas. Diante disto, a sociedade prega a moral. Mas será que a moral deveria ser pregada? Não teria de ser a moral um ingrediente do senso comum? O texto de André Comte-Sponville aborda estes e mais alguns tópicos interessantes sobre a tal moral.
Quando alguém se propõe a redigir uma resenha, deve resumir o texto contrapondo as idéias principais com suas próprias opiniões. De um modo geral, não há muito que eu possa comentar, até porque o texto é extremamente claro e bem fundamentado. Cita grandes filósofos e escritores renomados para justificar o enfoque dado ao tema. Enfim, o autor realmente consegue, digamos, passar o recado.
Devo destacar, todavia, alguns enfoques interessantes e bastante esclarecedores que o texto apresenta.
Num primeiro momento, desfaz as confusões que se faz a respeito do conceito de moral. O que para muitos é dito como moral é, na verdade, precaução, medo ou um simples julgamento. Segundo o autor, “a moral começa onde nós somos livres: ela é a própria liberdade, quando esta se julga e se dirige” (p.19).
Seguindo a leitura, vemos uma série de exemplos que ilustram bem a o que o autor pretende dizer. A moral trata da liberdade que o ser humano tem de fazer o que considera certo, sem esperar por recompensa. Trata-se também de evitar tomar uma atitude reprovável, não por causa do castigo ao qual pudesse ser submetido, mas porque o próprio “eu” reprova a ação.
O segundo ponto interessante é a forma dada para que o próprio indivíduo defina “sua moral”. Imaginemos o caso em que o indivíduo seja dotado de um poder sublime (o texto cita a invisibilidade como exemplo). Tal poder, como qualquer poder, é capaz de corromper um indivíduo que não tenha muito claros seus conceitos de moral. Então, para deixar tudo mais claro, o autor diz que moral poderia se resumir concretamente no “conjunto de regras às quais te submeterias mesmo que fosses invisível ou invencível” (p.21). Excelente definição.
A terceira abordagem que destaco é a individualidade da moral. Segundo o autor, a moral só tem legitimidade em primeira pessoa (p.22). Ou seja, pregar moralidade aos outros não é moral, é moralismo. O indivíduo deve pregar moral apenas a si mesmo, independente de justiça, opiniões de terceiros, uma possível recompensa ou crença em Deus. Partindo disso, o autor cria e logo descomplica um paradoxo que se forma: se a moral é de cada um, deve haver uma moral para cada um. Lógico que não, pois se para todos fosse moralmente aceitável mentir, roubar e matar (usando os exemplos do texto), instalaria-se o caos. Segue que a moral leva em conta o próximo, uma vez que as atitudes do indivíduo invariavelmente afetam outras pessoas. Portanto, a moral deve se fazer presente no senso comum, onde as pessoas agem com moralidade sem precisar cobrar umas das outras.
A quarta e última abordagem que destaco trabalha na relação da moral com a crença em Deus ou, de modo geral, a moral com a religião. Tomando um caso extremo de descrença, de ausência de religião, mesmo assim, o indivíduo não se permite fazer “tudo”. Ele ainda segue os preceitos da moralidade, do que ele considera correto. Sendo assim, o autor mostra que não é a religião que conduz à moral. Até porque hoje em dia ninguém toma a religiosidade do outro como aval de uma postura correta, de moralidade. Pelo contrário, de acordo com o texto, “a moral regulamenta ou justifica a religião”, já que “por um mandamento ser moralmente bom que posso acreditar que vem de Deus” (p.26).
De um modo geral, verifica-se que o conceito de moral está fundamentado na essência do ser humano. A moral deve fazer parte de todo o conjunto de atitudes deste ser, sobretudo em consideração a seus semelhantes. “A moral é a exigência universal, ou pelo menos universalizável, que te foi pessoalmente confiada” (p. 26).
REFERÊNCIA:
COMTE-SPONVILLE, André - Apresentações da Filosofia. Lisboa: Instituto Piaget, 2001
*Acadêmico de Licenciatura em Matemática da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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