Lá se vai o distante ano de 1985. Morando no interior do município de Feliz, RS, lá vou eu, o pequeno Daniel, do alto de meus 5 anos, tendo a tira-colo minha irmãzinha Carem, de 3 anos, indo para a escola pela primeira vez. No ano anterior, meus pais haviam me ensinado o português, já que, até então, eu só falava o dialeto alemão característico da região onde morava (Hunsrück). Estudar numa escola particular, como o Imaculado Coração de Maria, só foi possível devido a um auxílio financeiro da empresa onde meu pai trabalhava na época, a Antarctica. Administrada por freiras, o Imaculado era (e ainda é) uma instituição muito respeitada na região. Ainda lembro da diretora, a Irmã Dulce. Eu tinha medo dela. Já da vice-diretora, a Irmã Branca, eu gostava.
Na pré-escola, minha professora era a Rosane, uma moça novinha e muito legal. Diz a minha mãe que aquela professora havia se surpreendido ao me ver escrevendo meu nome com tinta guache num dos primeiros dias de aula. Escrever não é o verbo mais adequado, já que eu não fazia a menor idéia do que aquelas seis letras significavam. Mas eu estava na escola para aprender isso! Na escola, era tudo novo e um pouco estranho. Tentei, mas não fiz muitos amigos. Costumava ser deixado de lado pelos colegas nas brincadeiras e atividades devido a um carregado sotaque alemão e aquela ingenuidade típica de menininho do interior.
No ano seguinte, na 1ª série, a professora Verinha me ensinou a ler e escrever. Eu era bom aluno. Tirei algumas notas 10. Na 2ª série, a professora Márcia "inovou" com um quadro de estrelinhas, que era preenchido de acordo com o desempenho dos alunos nas provas e ditados. Fui o terceiro colocado no fim do ano, atrás apenas da Jussara e da Letícia. Nós três fôramos os únicos a encher o quadro todo, obrigando a professora a colar duas estrelinhas em alguns quadrinhos. Que orgulho aquilo me dava!
Por conta da suspensão do transporte escolar no ano seguinte, eu e minha irmã tivemos de mudar para uma escolinha municipal perto da nossa casa. Era uma daquelas escolas que tinham só até a 5ª série, onde a professora mantinha duas ou 3 turmas juntas na mesma sala. Professora Agnes, iniciante no ofício de lecionar, me deu aula na 3ª e na 4ª série. Ela parecia me adorar. Lembro-me que numa das aulas ela fez um exercício com masculino e feminino de substantivos. Uma das questões era o feminino de herói. "Heroína" eu escrevi convicto, pois havia aprendido no ano anterior. Foi aí que aconteceu a minha primeira discussão com uma professora, pois ela disse, equivocadamente que o correto seria "heróica", coisa que eu rechaçava categoricamente. O erro ela viria a reconhecer no dia seguinte, após uma rápida consulta ao dicionário. Demos algumas boas risadas deste episódio mais tarde.
Na 5ª série, a professora Inês teve a missão de dar aulas para minha numerosa turma de 3 alunos. Isso mesmo! Três alunos: a Rosane, o Maurício e eu. Naquele ano, bati meu recorde pessoal, com 21 notas 10 no boletim. Eu me achava o máximo e meus pais tratavam de espalhar o feito do filho para quem estivesse disposto a ouvir. Aquele foi meu último ano na Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Pe. João Batista Ruland.
Em 1991, fui estudar em Alto Feliz, que era distrito de Feliz, mas viria a se emancipar no ano seguinte. No primeiro dia na Escola Estadual de 1º Grau Assunção, tomei um enorme susto por causa da sirene que avisava o horário de início da aula. Explico: até então, eu só conhecia a sineta da diretora e aquele barulho parecia um alarme de perigo. É de notar que a gurizada toda saiu correndo e eu não fazia idéia do motivo daquele escarcéu.
Dias depois, melhor ambientado e sem mais nenhum susto, conheci aquele que viria a ser, desde então, meu melhor amigo. Dizem que amigo é aquele irmãos que nos permitem escolher. E é como irmão que eu e o Alexandre nos tratamos até hoje. Na 6ª série, penso ter deixado de ser um "bichinho do mato". Aprendi a escrever histórias com a professora Eugenia. Conheci o x e o y com a professora Suzana Vera. Peguei gosto por jogar vôlei com a ajuda do professor Paulinho.
Da 6ª à 8ª série, eu e o Alexandre escrevemos peças teatrais para as comemorações de encerramento do ano. Eram propositalmente inspiradas da Escolinha do Prof. Raimundo, do Chico Anísio. Fazíamos o roteiro com a supervisão da professora Eugenia. Havia quem pensasse que ela corrigia nosso texto, mas isso não acontecia. Também cabia a nós dois dirigir o "espetáculo" que era encenado por todos os colegas da sala. Como eu disse, era uma imitação do programa de televisão, mas os personagens e piadas eram fruto exclusivo de nossas criativas mentes infanto-juvenis. Fazíamos os professores e todos mais caírem na gargalhada com nossas performances. Ou era muito bom, ou era muito ruim. Lembro da diretora Luci debruçando-se sobre uma mesa de tanto que dava risada por causa de uma piada do meu personagem. Impagável!
Na 7ª série, tive meu primeiro namorinho. Até em briga acabei entrando por causa da menina. Foi também na 7ª série que comecei a tocar piano e dançar no grupo de danças folclóricas alemãs da escola. Meu fiel escudeiro Alexandre, obviamente, era meu parceiro nestas atividades.
Pois é... Aqueles 3 anos se passaram e eu precisava trocar de escola outra vez. É interessante, pois eu estudei em cada escola por exatos 3 anos e isto aconteceria novamente no Segundo Grau! Eu estava muito contente porque voltaria a estudar na(!) Feliz. O popular "Segundo Grau" na verdade se chamava Escola Estadual de 1º e 2º Graus Prof. Jacob Milton Bennemann.
Sem dúvida, foi a melhor escola em que eu já estudei, tanto pela estrutura e qualidade de ensino, tanto pelas maravilhosas experiências pelas quais passei lá. Fui do Grêmio Estudantil e líder de turma no 2º e 3º ano. Jogava vôlei como um doido, aproveitando a altura de 1,91m que eu atingi aos 17 anos. Era daqueles chamados "caras populares", fato que não se traduziria em número de namoradas.
Minha turma foi a última a ter no currículo disciplinas específicas de redação e de metodologia científica. Isso deu a mim e boa parte dos colegas uma boa base para redações de vestibular, por exemplo. Me dava bem com todo mundo, especialmente com os professores. A professora Márcia, aquela mesma da 2ª série, voltou a ser me dar aulas, lecionando Biologia. Eu nunca colei numa prova, mas na matéria dela eu dava uma força especial para um colega meu. Ele passou de ano e até acho que aprendeu um pouco mais de Biologia por minha causa (risos).
Em 1995, meu segundo ano naquela escola, aconteceu uma crise no transporte escolar. Era uma situação bem específica da localidade em que eu morava. Sendo o único estudante de segundo grau a ter aulas à tarde, fui forçado a ir a pé todos os dias para estudar. Eram 5 quilômetros de estrada de terra batida morro abaixo até a escola e morro acima de volta para casa. Pelo menos minha forma física estava ótima.
Numa tarde de novembro daquele mesmo ano, assim que entrou na sala de aula, a professora Márcia exibiu orgulhosa um tubo do limpador multi-uso Ajax. Algumas horas antes, o Grêmio, meu querido time do coração, havia perdido o título mundial para um time holandês com o mesmo nome daquele produto de limpeza que a professora colocou estrategicamente em sua mesa. Que raiva! Mas eu gostava daquela professora, apesar de ela ser colorada.
As professoras Elisabela, Marieta, Teresinha e o professor Antônio (pelo qual sou chamado de "meu amigo" hoje em dia) também me trazem boas lembranças daquele tempo. Até a diretora, Dona Adolfina, que era temida por muitos e odiada por outros tantos, era minha amiga. Vivia me chamando para seu escritório, a fim de tomar um café e conversar um pouco. Pudera, meu pai era presidente do CPM e eu o ajudava a, por exemplo, capinar o matinho da escola no período de férias.
Meu terceiro ano foi completado em 1996. Festas, excursão, diversão e aquele inevitável ar de despedida. Encerrava-se o ciclo. Não voltaríamos à escola no ano seguinte. Cada um dos colegas seguiria seu caminho e seus sonhos. Quanta saudade!
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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