sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Aprendendo a Avaliar

Dar valor, medir, reconhecer a grandeza ou o merecimento de algo. Todos são sinônimos de “avaliar”. Pois é, se você realmente entender avaliação como sinônimo destes termos, verá que o ato de avaliar está presente em inúmeras situações do cotidiano. Dizer que fulano é inteligente, que sicrana é bonita, ou que deltrano dirige bem, nada mais é do que atribuir um conceito, que pode variar entre o bom e o ruim. Nada mais é do que avaliar. Cada um de nós usa de instrumentos bem particulares para suas avaliações. Levamos em conta nossas concepções, nossos princípios e valores para aferir e qualificar os atos ou mesmo as pessoas.

É munido destes predicados que um professor atua em aula. Tem lá seus ideais e quer a todo custo que seus alunos atinjam os objetivos pré-definidos. Resta averiguar se tais objetivos estão bem claros e justos. Imaginemos a situação em que o professor entra na sala de aula e, de imediato, adotando uma postura discriminatória, mapeia a turma e classifica seus alunos. Alguns parecem ser bons, os demais nem tanto. Outros, porém, estão fadados ao fracasso, pois não têm condições de aprender. Ora, baseado em que o professor pode fazer este tipo de “avaliação”? Em sua rica experiência, eu suponho.

Não é, de forma alguma, nos primeiros contatos que ele poderá fazer isso. Me arrisco a dizer que esta colocação de rótulos nos alunos não poderia ser feita jamais. Os primeiros contatos servem para dar os dados iniciais para o processo avaliativo e podem indicar o início da caminhada. Indicam como o professor atuará dali para frente para cumprir bem seu papel de educador.

Uma vez que o professor consegue identificar as carências e necessidades de seus alunos, traçando os caminhos a seguir, só então poderá proceder com suas constantes avaliações. Uso aqui o termo “constantes” porque já comentei, no início, que avaliações são processos muito freqüentes no dia-a-dia, e não haveria de ser diferente na escola. A diferença está no fato do professor usar técnicas para medir o desempenho de seus alunos. Na prática educativa, o profissional deve abster-se, muitas vezes, de suas convicções e entender os processos de aprendizado de cada aluno como fatores únicos. Ele deve munir-se de dados que lhe permitam uma correta avaliação do seu aluno. Aí é que entram os instrumentos avaliativos específicos da escola.

Associa-se muito a avaliação à prova, ao teste. Ao longo do semestre de curso na Atividade Acadêmica Ação Pedagógica e Avaliação, tive contato com diversos trabalhos de teóricos que estudam a avaliação da aprendizagem como um processo todo especial. Não entendo a avaliação como um processo à parte da prática docente. É apenas um trabalho todo especial e de sumária importância na escola. Foi possível entender a avaliação como uma atividade bem mais complexa do que somente contar acertos de uma prova.

O ato de avaliar importa coleta, análise e síntese dos dados que configuram o objeto da avaliação, acrescido de uma atribuição de valor ou qualidade, que se processa a partir da comparação da configuração do objeto avaliado com um determinado padrão de qualidade previamente estabelecido para aquele tipo de objeto. O valor ou qualidade atribuídos ao objeto conduzem a uma tomada de posição a seu favor ou contra ele. E, o posicionamento a favor ou contra o objeto, ato ou curso de ação, a partir do valor ou qualidade atribuídos, conduz a uma decisão nova, a uma ação nova: manter o objeto como está ou atuar sobre ele. (LUCKESI, 1998, p. 6)

Não é uma crítica às provas e testes, muito pelo contrário. Creio que a prova seja, de fato, um instrumento precioso de avaliação. Concordo que a prova, assim como todo o processo avaliativo seja um “mal necessário” (ESTEBAN, 1999, p. 10), uma vez que obriga o aluno a se esforçar, minimamente, que seja.O problema fica por conta de como os resultados das provas são entendidos pelo professor. É pena que o professor, às vezes, do alto de sua autoridade, se dê o direito de julgar seus alunos sem perceber que é ele também que está sendo avaliado. Não percebe, muitas vezes que o desempenho de seus alunos é um espelho do seu desempenho como educador e orientador. “Para Comenius, se o aluno não aprendesse, havia que se repensar o método, ou seja, o exame era um precioso auxílio a uma prática docente mais adequada ao aluno” (GARCIA, apud ESTEBAN, 1999, p. 32).

É com base na avaliação que se decide, praticamente, o futuro do nosso aluno: se ele deve repetir o ano ou prosseguir; se tem aptidão para determinada carreira; se está acompanhando bem o conteúdo, etc. A mesma avaliação deve dar subsídios para que o professor aperfeiçoe seu trabalho e atinja sempre melhores resultados com seus alunos.

Trabalho há bastante tempo com ensino profissionalizante. Como tal, entendo que o aluno me procura e a minha empresa para aprender o que lhe falta em termos de qualificação profissional. Sendo assim, e para merecer o valor mensal pago pelos alunos, é que me esforço para que o aluno tenha um bom aprendizado. E, para verificar se o processo está bem encaminhado, nada melhor do que um correto processo avaliativo.

Sempre entendi a avaliação como uma via de mão-dupla. Ao perceber um baixo rendimento dos meus alunos, olho cuidadosamente para o processo e identifico eventuais falhas na minha atividade. Talvez não seja este o caso. Talvez o aluno tenha, de fato, dificuldades e não seja tão “culpa minha” o baixo desempenho dele. Mas posso fazer algo para mudar isto, posso tentar novamente. E, se ali na frente, eu me verificar que estou falhando, devo rever meus conceitos. Costumo lembrar das palavras do cartunista Henfil, que decorei lendo não lembro onde: “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção da semente”.

REFERÊNCIAS

ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem: domínio e/ou desenvolvimento? Disponível em http://www.luckesi.com.br/textos/avec_educatio/abceducatio_54_dominio_ e_desenvolvimento_26062006.pdf. Acesso em 27 jun 2008.

_____________. Verificação ou Avaliação: O que pratica a escola? Série Idéias n. 8, São Paulo: FDE, 1998. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p071-080_c.pdf. Acesso em 27 jun 2008.

HOFFMANN, Jussara M. L. Avaliação Mediadora: Uma Relação Dialógica na Construção do Conhecimento. Série Idéias n. 22, São Paulo: FDE, 1994. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_22_p051-059_c.pdf. Acesso em 27 jun 2008.

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